Por que a desaceleração da economia é considerada uma boa notícia pelos economistas
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou um crescimento de apenas 0,1% no terceiro trimestre de 2025, conforme dados do IBGE divulgados em dezembro, indicando uma desaceleração na economia. Apesar do ritmo mais lento, esse cenário vem sendo avaliado positivamente por diversos economistas, que entendem que um crescimento mais moderado pode favorecer a redução da taxa de juros e das expectativas de inflação, beneficiando o ambiente de negócios e o bem-estar da população.
Entre 2024 e 2025, o PIB brasileiro cresceu de forma robusta graças a setores como agropecuária, com alta de 10,1%, indústria (1,7%) e serviços (1,3%), mas comparado a economias emergentes como China e Índia, que cresceram a 4,8% e 8,2% respectivamente, o Brasil mostra um ritmo mais moderado.
O papel do pleno emprego na desaceleração
De acordo com Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, o Brasil atinge um patamar próximo do chamado pleno emprego, situação em que quase todos que desejam trabalhar encontram vagas, com taxa de desemprego atual em 5,4%. Em contrapartida, no começo da pandemia, esse índice estava em 14%, quando o retorno rápido ao crescimento era essencial para recuperar perdas de postos de trabalho. Hoje, o crescimento acelerado diante do pleno emprego pode ser prejudicial, pois a oferta de mão de obra já está limitada.
Essa restrição gera aumento dos salários pela competição por trabalhadores, o que provoca pressão nos custos das empresas e, consequentemente, aumento geral nos preços, alimentando a inflação. Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, alerta que, embora a população tenha ganhos de curto prazo com o aumento do emprego e dos salários, a inflação corrói o poder de compra das famílias no médio e longo prazo.
Políticas econômicas em ação para ajustar o ritmo
Para controlar a inflação e desacelerar a economia, o Banco Central elevou a taxa básica de juros nos últimos anos a níveis historicamente altos. Silvia Matos, do Ibre-FGV, ressalta que o Banco Central demorou para ver o efeito dessa alta, mas a recente desaceleração do PIB indica que a política monetária está alcançando seu objetivo de conter o crescimento excessivo para manter a inflação dentro da meta de até 4,5%.
Ao mesmo tempo, o governo federal implantou medidas fiscais expansionistas, como aumento de gastos sociais e da política de valorização do salário mínimo, o que ampliou o consumo e ajudou a reduzir a pobreza para o menor nível dos últimos 12 anos, com cerca de 8,6 milhões de brasileiros deixando as linhas da pobreza entre 2023 e 2024.
Expectativas para os próximos anos e desafios fiscais
Economistas projetam um pouso suave da economia brasileira, com desaceleração gradual que permitira a redução das taxas de juros em 2026, estimulando os investimentos e aliviando o custo da dívida pública. Contudo, o aumento dos gastos públicos acima da inflação, em média 5%, preocupa especialistas por ultrapassar o teto legal previsto no Arcabouço Fiscal, limitando o espaço para ajustes.
Mansueto Almeida destaca que, para que o Brasil tenha um cenário sustentável de crescimento em torno de 2,5% ao ano, com inflação controlada e juros baixos, será necessário desacelerar o crescimento dos gastos públicos e fortalecer o ajuste fiscal. Rafaela Vitória completa afirmando que, apesar do otimismo, sem correções fiscais, o país pode enfrentar crises semelhantes às observadas em 2015 e 2016, com desemprego elevado e recessão.
Assim, a desaceleração atual é entendida como uma chance para equilibrar o crescimento econômico, a inflação e as finanças públicas, construindo uma trajetória mais sustentável para os próximos anos.

